quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O travesseiro.


Era ofegante, era quente. Era bonito, sutil e feroz. A luz da vela batia no rosto dele e o brilho que se formava naqueles olhos clareavam mais o quarto do que qualquer vela. Do que qualquer incêndio. Era bom demais pra mim. Eu precisava saber se era realidade. Algo daquilo.
Repousei meu rosto sobre o peito dele, que ainda tremia um pouco. Virei levemente meu rosto a ponto de que meus lábios pudessem tocá-lo na pele, como um beijo. Coloquei minhas mãos em seu entorno como se eu pudesse abraçá-lo. Deixei então com que minha mão seguisse para baixo, passando por seus ombros e braço... Pude finalmente senti-lo os dedos, e minha mão se uniu a dele como num encaixe perfeito de um quebra-cabeça. Ficamos assim por alguns instantes... Eu o acariciava a mão e ele passeava com os dedos entre meus cabelos. O som do piano ao fundo eclodia com o ritmo descompassado dos nossos corações, e a paz daquele momento se expandia e ia de encontro a imensidão do céu com suas estrelas, talvez quase tão brilhante quanto os meus olhos sonhadores. Talvez meus sonhos combinassem com os acordes pré gravados daquele piano.
 - Pra sempre?
 - O quê?
 - Duraria?
 - O quê?
 - O tudo?
 - O que é o tudo?
Alguns minutos de silêncio foram tudo o que ambos tivemos como resposta.
 - Nós dois.
 - Nós somos tudo?
 - De certa forma...
 - De que forma?
 - Da minha forma.
 - Qual é a sua forma?
 - A sua forma.
 - Não entendo.
 - Você prefere não entender.
Mais silêncio.
 - Você é o meu tudo. Você sou eu, completo. Você é meus sonhos, meus medos, minhas fantasias. Meu desejo, minha brisa. Meu cais no porto, minha esperança. Meu desatino. Meu despertador e meu atraso. Você é meu piano. – Eu dizia calmamente ao passar meus dedos nos dedos dele. - Você é o meu cantar, meu dormir e o meu repousar. Você é o meu colo, meu acalento. Você é tudo de mim que eu nasci sem. Que eu sonhei em encontrar.
 - E conseguiu? – Ele disse com os olhos curiosos e ao mesmo tempo, calmos.
 - Me responda você.
 - Como?
 - Você ficaria?
 - Você quer?
 - Você quer?
 - Você já perguntou a sua mão se ela ficaria com você?
 - Não... - Respondi confuso –
 - Porque?
 - Que tipo de pergunta é essa? Que tipo de pessoa pergunta a própria mão se ela ficaria ali pra sempre?
 - Você.
 - Eu não. Não tenho o costume de falar com mãos... – Respondi em tom de ironia -
 - Mas tem o costume de perguntar a você mesmo se eu ficaria.
 - Não estou entendendo.
 - Suas palavras. Eu sou você, e tudo o que te completa. Tudo o que ama, tudo o que te deixa no prumo e tudo o que te tira do eixo. Sou o que te acorda, o que te deixa acordado, o que te acalenta, o que te faz dormir. O que te ampara, o que te segue, o que te segura e o que te levanta. Sou o que você sempre procurou e encontrou. Como eu poderia partir e arrancar de você tudo o que sou em você? Não serei um ladrão de sorrisos.
 - E o que você será? – perguntei leve, com uma paz de espírito enorme ao ponto de me levar ao sono. –
 - Nada além do que já sou. E do que posso ser. E do que quiser que sejamos. E tudo o que precisar que eu seja. Eu continuarei sendo o tudo que te completa.
 - Você promete?
 - Parece bom pra você?
 - Me parece perfeito.
 - Perfeito como?
 - Como isso.
 - Como isso o que?
 - Como esse sonho. Como você. Tenho um último desejo.
 - Qual?
 - Quando a manhã vier... Não me deixe jamais... Acordar.
 - Eu prometo. Agora me beije antes que o despertador toque.

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