domingo, 5 de maio de 2013

Carta ao amor.




 Oi amor. Como tem passado? Como têm andado? Longe de mim, percebo. Veja, precisei te escrever. Precisei mesmo. E eu não queria. Mas eu também não queria mais te ligar. Não para falar disso. E eu também não suportaria dizer isso olhando nos teus lindos olhos. Só de imaginá-los grudados nestas palavras já me causa um certo arrepio. Entenda, amor, foi a única (ou melhor) maneira. Tem umas coisas que eu quero te contar. Você está com tempo? Eu espero que sim. Caso não, é melhor voltar a ler isso mais tarde, com mais calma. O assunto é sério. Ou melhor, era pra ser.
 Bom, essa carta não é ao amor. É para O amor. O meu. Ou seja, você. Ou seja não, deveria ser mas acho que não é. É que eu te amo sozinho. Bom, disso você já sabe. Estou te escrevendo pra te “dizer” outras coisas.

 Você lembrou quando, sexta passada, do nosso primeiro encontro? Ahm... Não. Eu lembrei. E reparei que você não lembrou. Eu sempre reparo em tudo. Reparei na sua roupa aquele primeiro dia. Aquela jaqueta de colegial linda, caiu muito bem em você. Eu reparei no seu olhar. Na forma que você, amor, parecia... Constrangido? Com vergonha? Oh, amor. Vergonha de quê? Do que viria a ser? Você, algum dia, imaginou que aconteceria tudo isso? Aconteceu tanta coisa em tanto nada. E isso é estranho, não é? Meu amor...

 Que fundamento teve, todas as noites em que eu passei acordado? Pensando em você, falando com você, trocando mensagens... Todas as vezes que meu estômago vibrou... Que fechei meus olhos e vi você. Que fundamento teve? Todas as surpresas que eu te fiz? Você dizia gostar tanto... Toda vez que eu me arrumava pra te ver... Toda a expectativa em torno de um nada? Pra quê? Pra quê eu te dei tantas cartas? Pra quê eu coloquei tanto sentimento em cada uma delas? Porque é que eu coloquei tanto sentimento em você? Por que é que eu acreditei tanto? Foram seus olhos? As suas palavras? O que em você me causou isso tudo?

 As vezes eu fico repassando suas palavras, releio as mensagens e penso como tudo aquilo que você disse simplesmente não significava o que a frase realmente significava. Quero dizer, eu sei ler. Mas você não sabe escrever, ou sabe? Porque se não era tudo aquilo o que realmente sentia, porque as escreveu pra mim?
 Porque você me olhava daquela forma? Porque é que você fez o que fez? Porque me encarava naquele trem? Porque me provocou dentro do ônibus? Porque, hem? Aquelas cutucadas... Aqueles abraços... Eles duravam demais. E depois, duraram de menos porque hoje já não os tenho mais. E as suas piscadas, as suas provocadas... No supermercado, aquele abraço que me deu, me envolvendo completamente, derrubando a minha parede de proteção, derrubando a minha resistência, derrubando tudo o que eu tinha demorado muito a construir contra você. Você insistiu, demais. Até que eu deixei tudo cair.

 Deixei cair pra quê? Pra você pisar, né? Pra você usar, sujar, fazer o que quisesse: muita hora com a minha cara. Me deixar te esperando, te querendo, me preocupando com você, enquanto você não tá nem aí. Você saiu pela porta e decidiu que ia curtir a sua vida, só não me avisou que não voltava pra me buscar, nem que não me levaria com você. E até hoje você continua jogando comigo, me chamando quando precisa, conversando comigo quando não tem mais ninguém disposto ou disponível pra te ouvir. Você continua fazendo hora com a minha cara.

 Comigo não dá pra sair, não dá pra ligar, não dá pra ver, pra conversar... “Tal lugar não dá, to ocupadíssimo, não tenho como voltar depois, tá tarde, foi mal a demora, tava no banho, tava dormindo, tava na academia”... Tá o caramba. Tá assim pra mim né? Sempre ausente. Mas quando precisa, preciso estar “online” pra você.  E aí, você fica “offline” quando quer. E o otário aqui te esperando?

 Olha, eu escrevi essa carta com um único propósito: Me despedir. É, era mais fácil só dar um tchau. Assim como era mais fácil eu ter te dado um murro na cara antes, como era mais fácil só ter corrido de você, era mais fácil eu não ter te respondido também, não te ouvir chorando, não te ninar. Não preocupar, não importar, não querer. Nem tudo é como a gente quer que seja, é uma verdade. Caso contrário, você não seria como você é. E eu não estaria como estou. Certas coisas não dá pra mudar. Mas outras, dá pra evitar. E começando aqui e agora, começando por você. Dá pra te evitar. Sua choradeira, o seu blá blá blá. Todo o seu “foda-se”, a sua falta de preocupação comigo. Veja, eu te dei tudo! Tudo! E o que você me deu em retorno? Dor de cabeça, noites mal dormidas, ciúme, raiva, raiva, raiva e raiva! De mim, de você de nós dois, de tudo o que nos cercou, de todo lugar que você pisou comigo. De tudo o que me lembra você, de todas as minhas roupas que você vestiu. De todos os lugares e pessoas aos quais te apresentei. De tudo do meu mundo que eu compartilhei com você.

 Bom, pra evitar mais chateação, mais tempo perdido, mais dor, mais tudo de ruim, vou encerrar aqui. A nossa história, a nossa “amizade” de merda que já faz tempo que nem é mais uma amizade. O único amigo aqui fui eu. O tempo todo. O que você fez por uma época foi fingir. Até o ponto onde simplesmente não era mais preciso fazer isso. Vou encerrar aqui toda a responsabilidade que eu tinha com você... Eu infelizmente não estou te esquecendo, não estou ligando o “foda-se” totalmente pra você como você fez pra mim. Mas estou declarando aberta a temporada onde vou ser mais eu e menos você. E eu não estou nem aí. Se você está chorando. Se você voltou para o seu ex amor que eu achava não te merecer, mas hoje em dia, que se dane. Estou chamando de volta a minha alegria que foi embora quando você veio, estou me obrigando a não te procurar mais. E por mais que eu queira notícias suas vez ou outra, vai ser pouco. Bem pouco. Vai ser bem menos de mim pra nada de você. Até não sermos mais nada um pro outro. Porque assim ao menos, o seu nada não me atinge. A minha indiferença agora vai falar o foda-se pra sua, e aí tudo vai ficar bem.

 Estou encerrando nós dois. E essa carta.


                                       Sem carinho, sem nada. Com pesares, sim. E com o que no futuro vai soar como um alívio... E por mais que eu odeie essa palavra e nunca pensei que a diria pra você... Meu sincero adeus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário