domingo, 21 de abril de 2013

Conto - Vai Que Dá Certo.


 Ela não era a menina mais linda que eu já tinha visto, ela não tinha o melhor corpo e nem o melhor nada. Mas ela era especial só por ser ela. E eu gostava da forma como ela falava. Eu gostava do jeito com o qual ela me fazia rir sempre. Talvez fosse o jeito dela, nada especial comigo. Mas eu ainda assim gostava. Gostava muito. Eu já tinha tido a oportunidade de conversar com ela muitas vezes, talvez fôssemos até amigos. Eu não sei o que deu em mim, talvez aquele “um minuto de coragem insana”, sei lá. Eu só sei que eu fui até ela, naquele banquinho de praça, as folhas da árvore caindo enquanto o sol se punha. Eu me sentei ao lado dela e disse:
- Oi. Você está bonita.
- Ah, oi. Não minta pra mim – Ela respondeu e gargalhou, meio que fazendo piada dela mesma. – Você também está bonito.
- Não estou mentindo – retruquei. – Tem algo que eu quero que você saiba. Eu não sei bem como dizer isso, mas vou falar da forma que parece mais correta, tudo bem?
 - Tudo bem... Eu acho – Ela disse, com um olhar meio curioso e meio confuso.
- Eu gosto de você.

Eu mal podia acreditar naquelas palavras saindo da minha boca, eu sentia o meu corpo todo tendo várias reações que eu talvez nunca tivesse sentido antes.
- Ah, obrigada. Eu também gosto de você – Ela disse rindo.
- Não, acho que você não entendeu. Eu gosto mesmo de você, gosto muito. Mais que um simples gostar, desses de amizade. Gosto demais. Entende?
- Ah, droga. – Ela respondeu desvencilhando o olhar. – Eu também gosto de você. Gosto mesmo. Mas como amigos... Eu amo outra pessoa. – E entortou os lábios, como quem faz uma cara de “sinto muito”. Eu estava triste, não sei. Talvez eu ainda nem tivesse processado a informação, quando eu disse: - E há esperanças?
- Como assim, esperanças? –Ela perguntou
- Com ele. Você tem esperanças? Vocês estão juntos de alguma forma?
- Não sei... Eu estou junta a ele mas não sei se ele está junto a mim.
- Como assim? – Eu perguntei, visivelmente confuso.
- Eu gosto dele. Eu estou presa a ele pelo simples fato de gostar dele e isso não me é o bastante, mas é o que eu tenho. Ele não está preso a mim mas não sei se eu sei o porque.
- Que estranho.  Digo, se você está presa a ele, ele deveria estar a você também...
- É, talvez eu concorde. Mas não é assim que as coisas funcionam.
- E a esperança? Existe? – Tornei a perguntar.
- Quanto a mim e a ele? – Ela perguntou.
- Sim. Existe alguma?
- Talvez não. Talvez sim. Nada concreto. Nada a que eu possa me agarrar. Nenhuma promessa, nenhum contrato. Eu o amo. Acho que é isso. E enquanto há amor, há esperanças. Então, talvez eu possa dizer que sim. Enquanto o mundo diz não.
- O mundo diz não? – Perguntei confuso. Ela não fazia feição alguma, ela parecia falar de sua rotina, de algo normal, comum e tranquilo, não da esperança (ou de sua falta) de ficar com seu amor.
- Sim. Tudo diz não, o tempo todo. Olhe pros lados, tudo o que você ver, está dizendo não. Está dizendo que o amor não dá certo. Que ele não vai ficar comigo. Que por algum motivo não sou boa o bastante para tê-lo. Ou talvez eu seja mas ele não vai notar. Sei lá, há inúmeros motivos pra dar tudo errado. 99,9% de motivos negativos.
- Então porque você tem esperança?
- Pois é o que me resta. Se eu simplesmente aceitar que não nos há futuro como eu quero, que não nos há escolhas, que não nos há alternativas, saídas... O que seria de mim? Como seria acordar todos os dias pensando nele, e logo pensando que nada que eu possa fazer trará ele pra mim? É meio cruel, não é? Eu não conseguiria encará-lo com os mesmos olhos. Seria como ver uma parte perdida, algo que eu nunca terei e nem alcançarei. Posso parecer confusa, mas seria ainda mais confuso sentir isso. Por isso, me dou a esperança. De que um dia vou tê-lo. Assim, vou dormir mais feliz. Tenho com o que sonhar. Quando acordo, penso nele. Tenho em quê pensar. Coisas boas. Ele me faz bem, assim, involuntariamente. E quando ele não faz, eu penso nele e fico bem. Parece loucura, mas não é. A ideia de poder amá-lo pra mim já é reconfortante. E se um dia eu tê-lo em minhas mãos, saberei o que fazer pela nossa alegria. E enquanto eu não tiver, eu vou sonhando. E se esse 0,01% que diz que vai dar certo, está certo? Vai que acontece?




- Augusto Alvarenga. - Ilustração por Ana Carolina.

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